Bem, sei que muita gente saiu no movimento de zeistgeist, mas tem membros novos chegando. Eu por exemplo, lol
Olá a todos!
Pois é, cara... só tomei conhecimento do que ocorreu no ano passado, há pouco tempo. Eu ia apenas te dar boas-vindas, mas sua menção sobre “Zeitgeist” me fez refletir um pouco sobre o que aconteceu com essa comunidade, o atual contexto sociopolítico, a crescente polarização que estamos vivendo, e como tudo isso está, de certa forma, relacionado. Então me perdoe por transformar um post de boas-vindas em um textão de facebookson. Mas vamos lá...
Em 2013, ainda na época de pré-lançamento dos consoles da atual geração e no auge da controvérsia do DRM, lembro de ter visto em diversos sites/mídias de jogos, inúmeras matérias sobre a insatisfação dos jogadores em relação a esse problema. E, para minha surpresa, tal insatisfação não se resumia a uma mera birra momentânea de consumidores, mas constituía uma
mobilização real dos jogadores, organizada através de uma campanha alicerçada em uma comunidade. Uma
verdadeira comunidade de jogadores, vale frisar, e não apenas um grupo de clientes de uma determinada empresa ou serviço, como é a praxe em vários fóruns.
A descoberta dessa comunidade, por meio de uma campanha gigantesca, capaz de se tornar relevante diante da “grande mídia” e, até mesmo, influenciar
diretamente a própria indústria de jogos, foi algo surreal pra mim. O primeiro tópico que li, o meu primeiro contato real com essa comunidade, foi o lendário ‘
Now do you Believe?’. O OP do mortimer – com os planos da comunidade para combater as intenções malévolas de empresas gananciosas (!), que ameaçavam o futuro do nosso querido hobby -, aliado a uma quantidade absurda de pessoas que interagiam de forma surpreendentemente respeitosa (pelo menos à primeira vista), agindo em prol daquele nobre objetivo, foram mais do que suficientes para despertar em mim o desejo de fazer parte dessa comunidade. Algo que eu não sentia há
muito tempo. E foi assim que conheci, e me tornei parte, do NeoGAF.
É claro, relendo o que acabei de escrever, fica patente uma certa “romantização” dos fatos que transcorreram à época. Talvez por nostalgia, que nos faz relembrar o passado com uma pitada de leniência; ou talvez por pura ironia, tendo em vista que hoje sou (um pouco mais) capaz de perceber a minha inocência e ilusões em relação a certas coisas. De qualquer forma, não nego que me sinto bem ao lembrar e escrever sobre o meu “primeiro encontro” com essa comunidade, e imagino que boa parte das pessoas que um dia desejaram e optaram por fazer parte dela, provavelmente tiveram, em algum momento, uma percepção, sentimento e expectativa, em relação ao GAF, semelhantes às minhas.
Mas a verdade é que, pelo menos para mim, essa percepção “inocente” foi sendo desconstruída ao longo dos anos. Uma coisa que demorei certo tempo para perceber, é que o GAF não era uma “verdadeira comunidade de jogadores”, como eu imaginava. Era
algo mais do que isso. E não digo isso com uma conotação positiva. Pelo contrário. Com o tempo, fui percebendo que o “Gaming”, que eu pensava ser o elo comum que nos unia, e o cerne deste espaço, era, na verdade, algo
secundário, ou um simples
meio para atingir os verdadeiros interesses da parte “dominante” dessa comunidade.
E confesso que acompanhar esse processo de desconstrução foi um pouco triste. No início, com uma visão inocente e romantizada, aflorada por simplesmente poder participar desta comunidade gigantesca (e achando tudo sensacional), é natural que você tenha uma postura condizente com a opinião dominante. É natural, imagino eu, assumir como verdade, sem pensar criticamente a respeito, a opinião de determinados membros. Ou talvez não seja natural, mas apenas mais um reflexo da minha ignorância e vulnerabilidade perante determinados discursos.
Mas está tudo lá, nas regras. “Este espaço é intensa e cuidadosamente moderado, visando garantir o
triunfo do discurso pautado em argumentos lógicos e evidências”. Não é isso? Logo, as opiniões e discursos que são reforçados e repetidos aqui estão corretos do ponto de vista lógico, argumentativo, empírico, e não apenas “moral”. Ora, nós temos grandes indivíduos nessa comunidade, cada um com um repertório mais afiado do que o outro, e todos eles são categóricos, contundentes e implacáveis num debate, ao sustentar tais opiniões. E quem discorda ou apenas diverge delas esta, muito provavelmente, errado. Ou pior, não está apenas errado, mas tem algum tipo de ódio ou preconceito motivando sua opinião, e deve ser, portanto,
combatido.
Por mais pueril que isso possa parecer agora, eu realmente acreditei nisso por um período, principalmente porque ódio, preconceito, etc. são coisas
muito reais, que afetam milhões de pessoas, e que já me afetaram, e ainda me afetam em alguma medida. Inclusive, justamente por acreditar nisso, já puxei saco de pessoas “famosas” daqui (uma das poucas coisas, talvez a única, que me arrependo de ter feito nesse fórum), sem sequer saber dos fatos concretos, simplesmente porque tais pessoas regurgitavam um discurso muito palatável, corroborado pelo o que expliquei no parágrafo anterior. Afinal, é muito mais cômodo cobrar que os outros (a sociedade, ou parte dela) solucionem os problemas, do que assumir responsabilidade sobre sua própria vida, incluindo os seus fracassos.
E é inacreditável como esse comportamento acaba tomando conta de você, de forma bastante natural e insidiosa, que chega até a ser difícil perceber. Apenas para citar um exemplo, recordo que há alguns anos, pouco antes de perceber o que estava acontecendo comigo, um interno de medicina estava me passando o caso de um paciente no ambulatório, e eu, de forma instintiva, corrigi algumas palavras que ele usou. Fiz a “correção”, não porque tais palavras estavam erradas do ponto de vista médico ou semiológico, mas simplesmente porque, no meu entendimento, eram ofensivas ao paciente e sua família.
Porém, no meu caso específico, algumas experiências que tive, em parte graças à minha profissão, me permitiram enxergar as coisas com um pouco mais de clareza e propriedade, e me fizeram perceber que uma parte do discurso que eu apoiava (e encontrava suporte aqui no GAF) era, na verdade, prejudicial aos valores (e pessoas) que eu achava que defendia. E à medida que essa dissonância foi se tornando maior, eu fui me afastando deste fórum, chegando ao ponto de participar apenas do BrazilGAF, e mesmo assim, muito esporadicamente.
É claro que o GAF não é (ou foi) a
origem desse tipo de discurso/comportamento. Ele é/foi apenas um dos meio pelos quais os discursos ideológicos proliferam, dentro do contexto político e social que estamos vivendo. Eu realmente não saberia dizer se essa comunidade algum dia já foi, em
essência, uma “verdadeira comunidade de jogadores”, como eu acreditei outrora, ou se, desde sua concepção, foi um veículo de viés ideológico dentro da comunidade gamer global. Ou talvez tenha sido as duas coisas, não sei dizer.
Mas acredito que isso seja irrelevante agora. O que importa, na minha opinião, é toda a trajetória, que culminou numa irônica “traição” e consequente divórcio dessa comunidade, diante de um contexto sociopolítico cada vez mais polarizado e perigoso. Resta saber como as pessoas vão se comportar diante dos fatos. E aqui, não estou me referindo apenas à comunidade do GAF, mas à nossa sociedade de uma maneira geral.
Mas enfim... já matraquei demais. Que venha 2018. Esse ano promete...